Artigo: Quem quer ser um milionário?

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Por: Carlos Galuban Neto*

Você gosta de dinheiro? Eu gosto bastante. Desde que o enriquecimento não fosse ilícito, não envolvesse esquemas de pirâmide ou a abertura de igrejas – afinal, travesseiro leve e consciência limpa não têm preço – adoraria acordar com milhões na conta bancária sem ter feito qualquer esforço para merecê-los. A meritocracia, afinal, é o último refúgio dos canalhas.

Acredite, sou uma pessoa normal. Todo mundo gosta de dinheiro. Sabe aquele seu político de estimação – de direita ou de esquerda – que adora ser visto como homem simples, do povo, dono de hábitos simples? Experimente tirar dele o cartão corporativo ou as joias recebidas de presente e aguarde para ver quanto tempo dura o voto de pobreza. Até o Papa Francisco, que é um ser mais elevado em vários aspectos, aprecia um bom e velho conforto. Ou você acha que ele toparia abdicar de seu avião particular e do Papamóvel para viajar de classe econômica pela Gol e andar de Uber X pelas ruas de Roma?

Na verdade, o que diferencia um sujeito do outro é a utilidade do dinheiro para cada um. Para a maioria, é o meio para obter bens materiais de luxo e poder, seja por meio de um carro esportivo ou uma casa de praia, seja por meio de doações absolutamente altruísticas aos candidatos de uma eleição ou, ainda, mediante a aquisição de alguma rede social para provocar ainda mais barulho na arena política.

Já para as exceções da humanidade, entre as quais me incluo, a grana representa um passaporte para a liberdade, um modo de não precisar mais se preocupar com o sustento diário e, enfim, passar a se ocupar apenas com atividades prazerosas.

No meu caso, seria a realização de um sonho não ter mais de lidar com o Poder Judiciário diariamente. Afinal, se eu quiser um atendimento lento e incerto sobre se receberei ou não aquilo que pretendo, posso muito bem usar os canais de teleatendimento da minha operadora de Internet.

Além de nunca mais advogar, a minha vida de milionário seria uma absoluta exceção: envolveria ler os livros que insistem em se acumular sobre a escrivaninha, assistir aos filmes tantos que já são suficientes para formar uma locadora, investir na carreira de humorista de stand-up, escrever um livro de ficção ou uma biografia de algum personagem interessante, ajudar a pagar parte da dívida do Corinthians, subornar Abel Ferreira para que deixe o comando do Palmeiras, investir em uma tecnologia que permita a transferência de perdas de calorias entre diferentes pessoas, enfim, atividades que não possuem qualquer senso prático senão o de deixar este colunista feliz e satisfeito consigo mesmo.

Dinheiro é ótimo, mas a liberdade é melhor ainda.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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